NOITE DO DIA 3 DE ABRIL DE 2011: Os Preparativos
A aventura começou a noite, um dia antes da visita ao Abismo Anhumas…
Assim que voltamos da Fazenda Água Viva, onde fizemos um passeio muito legal pelas Cachoeiras do Rio do Peixe (clique aqui para ler o relato), partimos para um treinamento de Rapel e aluguel de equipamentos.
A visita ao Abismo Anhumas é certamente aquela que requer mais preparação, em todos os aspectos:
- Em primeiro lugar, o preço é o mais alto de todos (em 2011 eu paguei salgados R$465), pois inclui o aluguel dos equipamentos, treinamento e obviamente o pagamento da equipe, que é muito mais especializada.
- O traje para a flutuação é o único que precisa ser reservado, pois ele é um traje especial de corpo inteiro, que te cobre dos pés à cabeça, protegendo você das águas geladas do lago. Um dia antes fomos a um local específico para experimentar os trajes e reservar um que fosse adequado ao meu tamanho.
- Eles tem uma estrutura legal para treinamento de Rapel. Trata-se do único prédio da cidade, que com seus 15 metros de altura (mais ou menos) pode ser considerado um arranha-céu para os padrões de Bonito…
Não existe uma forma alternativa de entrar no Abismo Anhumas. E pior ainda: não existe uma forma alternativa de SAIR do Abismo. Uma vez lá dentro, você obviamente terá que sair um dia e a única forma de fazer isto é em rapel negativo, sem nenhum tipo de apoio lateral. Então você precisa ter pernas, braços e coração preparados pra isso…
O treinamento no dia anterior serve para 2 coisas: ensinar os aventureiros de primeira viagem a usar o equipamento e ajudá-los a decidir se fazer um rapel negativo de 72 metros pra dentro de um buraco com um lago de 80 metros de profundidade é uma boa ideia…
O treinamento é feito em uma plataforma de 8 metros de altura, onde podemos ter uma vaga noção das dificuldades que nos aguardam dentro do Abismo. Naquele momento os instrutores avaliam se temos condições de enfrentar o desafio e nos deixam um recado claro: não existe outra forma de subir… Se bater um desespero na subida, não tem outro jeito, só dá pra voltar usando os braços e pernas. Não existe possibilidade de “içar” alguém de lá de dentro, pois seria muito perigoso.
A técnica usada para a subida faz uso principalmente das pernas, mas para quem está fazendo isso pela primeira vez é muito difícil fazer o movimento correto e no fim das contas eu acabava usando muito mais os braços, que ficaram inchados e eu quase morri de cansaço só no treinamento. Tentei não pensar que aquele teste era em uma altura quase 10 vezes menor do que a situação real… Topei o desafio e fui dormir com um frio na barriga!
DIA 04 DE ABRIL: Descendo no Abismo Anhumas
No dia seguinte pela manhã, acordei bem cedo e parti sozinho para o Abismo Anhumas seguindo por aproximadamente 22 km de estrada. A equipe ficaria aguardando direto lá e como neste caso não teríamos nenhum receptivo nem nada parecido, a Elisa resolveu ficar na nossa pousada curtindo um Shiatsu…
Peguei a estrada e parti sozinho para a minha aventura…
Chegando no portão de entrada, a sensação de estar desbravando a natureza é inevitável… A paisagem ao redor pareceria intocada, se não fosse pela estrada de terra serpenteando pelo cenário.
Deixei o carro em frente ao portão, que curiosamente estava vazio. Parecia que não tinha mais ninguém ali e isso só ajudou para aumentar o meu nervosismo…
Abri o portão e segui por uma trilha pela mata até encontrar uma passarela de madeira, facilitando o acesso a região do Abismo.
Então eu comecei a perceber os primeiros sinais de vida e percebi que estava no lugar certo! A equipe já estava toda lá preparando os equipamentos para a descida do grupo.
Como a gente estava em período de Baixa Temporada, o grupo inteiro tinha apenas 3 pessoas, então um pouco depois de mim chegou o resto do grupo formado por mim e um casal formado por uma Catarinense e seu namorado Australiano/Japonês…
A estrutura de apoio é muito simples e existe espaço suficiente apenas para guardar os equipamentos e abrigar um vestiário.
O Abismo Anhumas foi descoberto nos anos 70 por um peão de fazenda. Eu fico imaginando o que levou o indivíduo a querer explorar aquele lugar na ocasião, porque quem olha para aquele buraco ali no chão (foto da esquerda) não dá muito pelo lugar…
O Abismo é a maior caverna submersa do mundo e é sem dúvida um dos lugares mais impressionantes que eu já vi na vida.
Então ali nos momentos que antecedem a descida, o sentimento de antecipação e o nervosismo começam a crescer. E durante o briefing a adrenalina vai aumentando cada vez mais, mesmo antes de estarmos com toda a parafernália montada.
Quando eu olhei o tamanho da fenda estreita por onde eu teria que descer (foto no lado direto), eu não parava de pensar: “O que eu estou fazendo aqui? Porque eu inventei isso?”
Então eu comecei a descida…
A aventura começa por uma fenda estreita, em uma descida de aproximadamente 5 metros e nesta parte inicial eu estava mais preocupado em proteger a cabeça e encontrar pontos de apoio para uma descida segura. De repente a fenda se alargou e eu me vi sem nenhum ponto de apoio, com as pernas penduradas e uma imensa caverna se estendendo a toda volta e lá embaixo, a quase 70 metros de distância, uma pequena plataforma flutuante de madeira e um lindo lago de águas cristalinas.
Acho que todo mundo deve sentir a mesma coisa, mas eu preciso confessar: durante a descida é muito difícil curtir o visual de forma plena, porque eu tremia de uma forma incontrolável. Como o grupo era extremamente pequeno, uma das instrutoras desceu junto comigo, pendurada no cabo ao lado, dando instruções bem de perto e me acalmando na descida.
A sensação é indescritível… a medida que o nervosismo vai passando, a gente começa a se dar conta da imensidão da caverna e da beleza sobrenatural do lugar onde estamos entrando… ao tocar o piso de madeira do deck flutuante com os pés, vem a primeira sensação de vitória!
Depois da descida, tive tempo para recuperar o folego enquanto esperava o casal descer. A primeira parte do passeio é constituída por um passeio de bote (tipo canadense), onde um dos guias nos leva para conhecer os enormes salões da caverna, que são repletos de espeleotemas das mais variadas formas, tamanhos e tipos.
O contraste das cores do lago (às vezes azul e às vezes verde) com as paredes da caverna proporciona um visual único…
O ambiente não é o mais propício para fotografias, porque o Abismo é muito escuro, mas eu fiz o possível para conseguir boas fotos sem o uso de flash com minha câmera de mão, então acreditem: as fotos que estão aqui no blog não fazem jus ao lugar.
DICA: Segundo o Site Viaje Aqui, a claridade é um pouco maior na segunda quinzena de novembro e primeira semana de fevereiro, das 8:30h as 13h, quando o sol incide diretamente na fenda do Abismo, criando aquele incrível facho de luz que vemos nas fotos do Site do Abismo Anhumas.
Durante o passeio nós usamos lanternas e precisamos falar por meio de sussurros, evitando assim que estalactites desabem sobre nossas cabeças.
Lá embaixo também é bem frio, então para os mais friorentos, um agasalho leve é recomendado. As fotos a seguir mostram mais uma overdose de formações calcárias…
Depois do passeio, quando ouvimos um pouco da história do lugar, curiosidades sobre a fauna e a flora e obviamente, tudo sobre espeleotemas, nos preparamos para a flutuação nas águas geladas do lago.
Neste ponto do passeio, quem tem certificado para mergulho deste tipo pode fazer um mergulho com cilindro (que deve ser a coisa mais incrível do mundo), mas eu, simples mortal que sou, me preparei para a flutuação apenas.
A temperatura média da água do lago gira em torno de 18 graus e a roupa ajuda a manter nosso corpo aquecido e flutuando. Recebemos máscara, snorkel e uma lanterna subaquática e partimos para uma flutuação livre por 30 minutos.
Por conta dos enormes cones de quase 20 metros de altura que fica no fundo do lago, a sensação é de estar sobrevoando a superfície de um planeta distante, por conta do relevo bizarro do fundo do lago.

Abismo Anhumas – Flutuar sobre as formações calcárias do lago é como sobrevoar a superfície de um planeta distante
No fundo do lago, estranhamente, também existem muitos peixes, mas não se sabe ao certo como eles foram parar dentro do lago, que não tem conexão com nenhum rio ou meio externo.
Depois da flutuação, extasiados, tivemos que nos preparar para o retorno… Entre o início da descida e o início da subida, o passeio durou aproximadamente 2:30h e ficamos com um gosto de “quero mais”, apesar de exaustos.
A hora do rapel em ascensão foi a mais difícil… em primeiro lugar, a roupa precisa ser adequada, então atenção a dica abaixo, para você não ter que passar por uma situação ridícula como a minha:
DICA: Como na ascenção o uso das pernas é intenso, é necessário o uso de meias grossas, tênis e calça comprida para proteção das pernas que ficam vulneráveis ao atrito com os cabos, o que pode gerar queimaduras. No entanto, esta calça precisa prover mobilidade para os movimentos e permitir sua transpiração. Então calças jeans não são indicadas. Leve calças adequadas para exercícios físicos.
Eu dei uma de garoto novo e levei apenas calças jeans para minhas férias em Bonito… então eu tive que improvisar: levei as calças compridas do meu pijama, que ficaram perfeitas para o rapel, mas ficaram simplesmente ridículas nas fotos!
Ainda bem que nosso grupo era reduzido e eu expus esta situação vexaminosa para poucas pessoas. E agora estou divulgando para o mundo inteiro na internet. Se eu der sorte, este post terá pouquíssimas visualizações e apenas meus familiares verão isto! …hehehe
O rapel em ascensão é super exaustivo, mas durante a subida os 72 metros de altura não são mais novidade e é muito mais fácil curtir o visual, que é realmente alucinante! A descida foi feita em 5 minutos, mas a gente levou quase meia hora para chegar no alto do Abismo e nesta hora um bom preparo físico faz toda a diferença.
Então eu fui subindo aos pouquinhos, desta vez sozinho, curtindo o visual ao meu redor… infelizmente o uso de câmeras não é permitido, mas os instrutores ficam com nossa câmera lá embaixo e por cortesia fazem umas fotos e videos…
Confesso que depois de um tempo subindo, quando a exaustão física começa a “bater forte”, dá um certo desespero olhar pra cima e ver que ainda falta tanta coisa pra subir, quando os braços já não respondem mais. Nesta hora, quando vinha aquela sensação de “não vou conseguir” eu soltava os dois braços, ficava pendurado curtindo o visual e esquecia tudo isso… depois de recuperar o folego, era só recomeçar a subida.
Eu sabia que pagar academia sem comparecer sairia mais caro do que eu imaginava…
A sensação de vencer o desafio é muito gratificante, mas eu cheguei lá em cima no bagaço total! A sensação era de que eu não conseguiria nem dirigir de volta pra cidade, de tão inchado que estavam meus braços… mas acima de tudo isso, ficou aquela euforia por ter vivido algo tão incrível e visto coisas tão bonitas.
O Abismo Anhumas é sem dúvida um dos lugares mais impressionantes de Bonito e talvez do mundo, então se você tiver oportunidade e um pouco de preparo físico, encare esta aventura, porque eu posso garantir que vai valer a pena!
PROGRAME-SE:
Abismo Anhumas
Distância: 22km
Preço: R$575 / R$805 (com mergulho)
Duração: meio dia
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Para conhecer todos os detalhes sobre o Roteiro de 7 dias em Bonito (MS) 2011, clique aqui. Para ver todos os posts deste roteiro clique aqui.
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Qro muito conhecer Bonito, adoro a natureza !!
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